
Inverno em Porto Alegre
Manhã de bruma
Gelada, translúcida
Pé na rua, frio na espinha
Meio dia,
Meio primavera,
Meio verão
Céu azul
Azul ozônio
E no fim da tarde
Vento do rio
Céu de sangue
Âmbar, coca cola
Ou vinho tinto
A escolha da imagem
A idiota, Iberê Camargo, 1991, Coleção Maria Coussirat Camargo, Fundação Iberê Camargo
Uma poesia sobre Porto Alegre tinha que ter um artista gaúcho para ilustrá-la. Iberê Camargo, nascido em Restinga Seca, no interior do Rio Grande do Sul, volta a morar em Porto Alegre em 1982 depois de anos no Rio de Janeiro. É nos anos 80, após ter sido preso por homicídio e absolvido por legítima defesa, que o pintor volta à figuração. Em 88 ele começa a série “Ciclistas”, fruto de suas observações no Parque da Redenção.
Em 1991 ele dá origem à série de pinturas “As idiotas”, um retrato da passagem do tempo, desses alienados que veem a vida passar num banco de praça. A bicicleta continua presente e essas figuras grotescas em paisagens insólitas, ora em tons azuis, ora em tons vermelhos, ganham o centro da obra e retratam a desilusão do artista, que morre de câncer em 1994.
O poema também é sobre a passagem do tempo. A mudança das horas e das cores – azul e vermelho – no céu invernal de Porto Alegre. Exatamente o que “as idiotas” veem de seu banco de praça. Para o artista algo triste e estúpido, mas para quem tem poesia, pode ser a contemplação da mudança de tons do pincel da própria natureza. [F.S.]
Sensações de inverno à flor da pele. Gostei que no seu blog temos cultura e conhecimento de artes. Coisas que muitas pessoas não ousam conhecer. Tem gente que curte minhas poesias pela gravura e nem se detém em sentir o meu sentimento passado pelas teclas do computador. Infelizmente o ser humano é imediatista e está sempre correndo …
Vivenciar o sentimento de outros, também é crescer e amadurecer, quase tanto qto. a experiência vivida em assistir um filme, que mtas vezes é ficção. Em sua poesia fiquei me colocando meio ali…..
Ficamos muito felizes que você esteja gostando!